As Ruas da Zona Oeste

Amon se surpreende com a postura da Ragabash e acompanha com o olhar enquanto ela se adianta para seguir os Fenris.

Ouvindo de Padmatavi que ela não dirige, o Peregrino responde.

"Eu sei dirigir, Padmatavi. Posso levar a todos nós para o Caern se você puder me indicar o caminho"

Dito isso, o Ahroun se estica para abrir a porta do passageiro para que a Beta da matilha entre e, logo após, dá a partida na maquina da Weaver.

Voltando a olhar para Flor-de-Lótus, ele finaliza.

"Estou pronto quando você estiver"

Andando pelas ruas da Barra da Tijuca , sem a menor idéia de como chegar no caern , Kalf pensa :

" Nós aqui , sedentos por uma batalha , mas perdidos sem rumo , enquanto isso , os covardes estão se dirigindo pra lá ou indo se esconder em algum lugar. "

Kalf olha então para Uller e fala:

' Precisamos ao menos chegar no caern Uller , pra tentar passar essa informação , e quem saber chegar na batalha de verdade , pois se depender do Alfa , ele ainda nem deve ter conseguido retirar o rabo de dentro do cú dele , ainda mais com um braço só. '

Kalf solta uma gargalhada, mas a preocupação pela situação é evidente em seu semblante.

- Informação? - e cospe no chão de desprezo - Pra ser bem sincero eu não entendi porra nenhuma do que eles falaram. Nunca fui muito bom em conversar com os espíritos, apesar de gostar de alguns deles. Mas não desses. Do que me consta nós estamos confiando tudo em informações de um bando de espírito que até onde nós sabemos serve o inimigo. Não é o tipo de informação confiável.


Uller pára e respira fundo o ar da noite.


- Mesmo assim...é bom a gente voltar pro Caern mesmo. Pra caso a merda bata no ventilador.

A lupina entra de volta para o Caern em sua frágil forma humana, ainda correndo em direção à Clareira Central.

Porém, o que encontra a deixa atordoada... o que acontecera? Fazia pouco tempo que ela saíra daquele lugar... ela não se lembrava de ter vido ou ouvido algo que justificasse aquela diferença toda. A lupina anda com cautela, mais devagar, tentando sentir algum cheiro que a ajudasse a entender usando seu dom Sentidos Aguçados...

Com Padmatavi na van e sua autorização para seguir, Lança-de-Hórus coloca a máquina da Weaver em movimento, cuidando para seguir na direção que o Galliard havia lhe indicado para seguir os Fenris. Mija-na-Wyrm estaria pelo caminho também, não muito distante, ele acreditava.

Aproveitando o tempo que teria com a Beta, resolve trocar informações com Flor-de-Lótus.

"Luna está ferida. Não parece ser muito grave, mas ela disse que criaturas estranhas guardam a mansão e vagam livremente pela construção durante a noite. Não vi nada além dos guardas enquanto estivemos lá dentro."

Olhando para Padmatavi e voltando a prestar atenção na rua, ele continua.

"A gente ia entrar de novo com o Bruno quando o Galliard avisou que os planos tinham mudado. Falou umas baboseiras sem sentido e deixou a Mija muito puta da vida. Só entendi alguma coisa de salvar a seita e mais umas coisas sobre uma emboscada em um caern."

Sem tirar os olhos da via, o Peregrino finaliza com uma pergunta.

"O que aconteceu com o Fenris que a Luna está carregando? Teve luta na umbra?"

Amon havia lutado com dois humanos e ainda estava com a adrenalina correndo forte nas veias por conta da excitação da missão. Ter de parar tudo e voltar para o caern não era o melhor dos mundos para ele, mas faria o que fosse necessário para ajudar a matilha e a seita como um todo. Queria lutar, queria um desafio e. acima de tudo, queria poder provar para seus novos irmãos, principalmente para aqueles que pudessem desconfiar de suas habilidades e de sua conduta, que seria capaz de se tornar um membro importante da matilha. 

Com as mãos ainda inquietas, segue guiando a van e observando o caminho em busca dos demais garous.

"Por que raios eles não esperaram na van? Seria muito mais fácil, cacete!"

Caminhando sem saber como chegar ao caern, Kalf apela pra misericórdia divina.

" Oh Gaia, nos mande um sinal, qualquer sinal, desde que nos guie até o nosso destino!"

Uller andava ainda pensando um pouco nos últimos eventos que haviam tomado parte. Normalmente ele não gostava de entrar em uma situação sem que lhe confiassem o motivo e as razões para tanto, mas isso parecia ser cada vez mais comum.

Primeiro lhe enviaram do norte da Europa para o Brasil sem lhe dizer porque.

Quando chegou ao Caern, o líder, um Senhor das Sombras chamado Garras-do-Trovão, lhe deu pouco mais do que o nome de uma matilha e sua localização. Tinha alguma coisa a ver com defender o território.

O Pantaneiro também não explicou o que eles foram fazer naquele lugar.

Merda, nem o Galliard havia apresentado a matilha direito e ao invés disso falou alguma coisa sobre mulheres gozando.

E agora aparentemente os espíritos eslavos que encontraram haviam passado uma informação crucial para a matilha...e de novo não lhe disseram o que era.

Por vezes lhe vinha a impressão de que as tribos mais fracas viviam tão cheias de si que achavam que Crias de Fenris eram pouco mais do que cães de briga. Claro que violência era a especialidade deles. Mas nem por isso eles eram um bando de cachorros malucos. Uma boa luta colocaria tudo isso para trás. Mas por enquanto só havia ficado com meias palavras. E aquele fedor de urina desgraçado.

Sem reconhecer o local, a lupina não sabia o que fazer... Usa sua energia espiritual para tentar romper a película para a Umbra.

Ao ouvir a van se aproximando , Kalf não consegue deixar de pensar:

" Ohhh Gaia , eu peço um sinal , uma ajuda , e o melhor que você tinha é isso ? "

Ao ouvir a Beta , a seriedade em sua voz , e o apelo em prol do caern , Kalf lembra que existe uma missão a ser cumprida , e que ele nunca fugiu nem nunca vai fugir das sua obrigações .

' Vamos Uller, temos uma batalha para lutar , e uma missão para completar , na hora certa acertaremos as contas com o cervo covarde e quem mais sair em sua defesa.'

Kalf esperou a van parar, a porta se abrir , e então tomou seu lugar na lata velha.

" Se essa é a vontade de Gaia , que seja feita vossa vontade."

O barulho do motor daquele carro era inconfundível. Quando se voltou para trás viu a van da Fortaleza de Gaia se aproximando. "Eu acho que vou sonhar com esse carro essa noite". Não tinha certeza de quem vinha dentro...

Até que a juíza da matilha se projeta para fora. Era a primeira vez que via em sua expressão a urgência nas palavras. "Merda".

Se fosse sincero consigo mesmo, Uller não gostava do jeito como haviam conseguido aquela informação. Não gostava de quem haviam conseguido aquela informação, porque tinha certeza de quem: os espíritos bocudos da Umbra. Mas Padmatavi acreditava. Acreditava ao ponto de tratar o assunto com a urgência real e que vinha em seu tom de voz.

E Uller era mais do que um garoto ressentido. Ele era um Garou. Um Cria de Fenris. Um Forseti defensor da Litania. Padmatavi era a beta da matilha e a Garou de posto mais elevado naquele lugar. Essa era toda informação de que precisava.

Kalf responde ao chamado e Uller segue. Dentro da van apenas eles dois, a juíza e o Peregrino Silencioso.

- Não te contaram, Flor-de-Lótus? - disse enquanto entrava no veículo - lutar pelo Caern, pela matilha, pela Wyld...é pra isso que nós estamos aqui - e olha para os lados, achando no entanto o carro um pouco vazio - Qual é a situação, beta? E cadê o resto da matilha?

Com os dois Fenris na van, o Peregrino arranca pelas ruas da Barra da Tijuca seguindo as orientações de Padmatavi.

As ruas vazias tornam a condução daquela enorme máquina da Weaver mais fácil e ele acelera o quanto sente que o carro pode aguentar sem provocar um acidente.

Pelo retrovisor ele olha os Crias na parte de trás e a fúria deles é quase palpável. Mantendo o foco nas ruas e nas indicações fornecidas pela Beta da Fortaleza de Gaia, ele aguarda pela resposta detalhada de Padmatavi sobre o que está acontecendo.

"Que raios está acontecendo nessa cidade? Quase não consigo me transformar, saímos em missão e ela é abortada para iniciarmos outra... Que Gaia e Rá permitam que tudo corra bem."

O motor da van ruge enquanto Amon pisa fundo no acelerador. Se todos os Garou corriam risco de desaparecer com o ritual que estava em andamento, não seria ele que atrasaria a cavalaria de chegar ao seu destino. Os pneus da van cantam a cada curva que ele faz apenas reduzindo a marcha da máquina da Weaver para logo depois voltar a engatar marchas rápidas.

Sentiu no sangue a adrenalina aumentar e a fúria querer explodir. Naquele momento sabia que estava no melhor lugar possível, acompanhado de dois Fenris e de uma Portadora extremamente experiente. Se a coisa ia ficar feia, então seria com estilo.

"O pau vai quebrar feio quando a gente chegar lá! E eu realmente acho que tô com o melhor grupo possível pra descer o braço."

Olhou pelo retrovisor para os Fenris observando se sua vontade ajudaria a inflamar ainda mais a deles.

Ao escutar todo o relato de Padmatavi , Kalf sente que toda aquela fúria não foi embora ,mas esta ali sob controle e vai ser destinada ao verdadeiro inimigo. Preocupado com a gravidade da situação mas com absoluta certeza , extasiado com a aproximação de uma grande batalha, ele escuta a pergunta final e responde :


' - Não Beta, duvida nenhuma, apenas nos diga a hora de atacar ,e nós liberaremos nossa fúria com enorme satisfação !'

Kalf solta seu machado da cintura, observa com cuidado a afiação do seu velho amigo ,enquanto escuta as palavras de Amon, e por fim responde:


' - Tente nos acompanhar Peregrino, esteja de pé ao nosso lado até o final,vitorioso e coberto pelo sangue do inimigo, que eu te garanto uma satisfação sem igual e junto com ela , o meu respeito.'

Atento a todos os detalhes que a Beta passava ,Kalf não pode deixar de perceber o quanto Uller estava calado.


" O que sera que esta acontecendo com o Uller ? O cara fala mais que radio noticia, sera que a presença da Beta esta inibindo o ahroun? "

Amon não sabia nada sobre magos e as informações que Padmatavi passava sobre eles fazia com que quisesse derrubar todos os que passassem pela sua frente. Mas o que mais o incomodava não eram os magos. O que mais o incomodava era o fato de um Garou de posto tão elevado ter se tornado um traidor. Isso ele não poderia compreender de forma alguma.

"Se esses caras são tão picas, vamos precisar de um plano. E se esse filho da puta traidor aparecer, vamos precisar cair com tudo nele."

Após quase perder o caminho indicado por uma das placas e fazer uma curva um pouco brusca demais, ele continua.

"Eu não sei o que andou acontecendo por aqui, mas tá difícil me transformar. Parece que tem alguma parada me segurando na minha forma toda vez que tento. O que tá pegando, Flor-de-Lótus? Isso vai dar problema pra gente na hora do quebra?"

Uller ouvia o relato da beta da matilha. Magos...nunca havia lutado com um. Só havia ouvido histórias. Criaturas estranhas, mexiam com a realidade e drenavam Caerns inteiros. Mas traidores...essa era sua especialidade.

- Você já dilacerou a garganta de um traidor, Kalf? Eu juro pra você...a sensação é indescritível...

A van voava pelas ruas da cidade. O cheiro de borracha às vezes subia um pouco mais forte com uma curva mais acentuada.

- Você aponta, Padmatavi. E a gente não vai deixar o desgraçado falar nada. Porém eu espero que dessa vez haja um plano? Nós temos o Peregrino, você e dois guerreiros. Se formos coordenados podemos flanquear o inimigo com uma manobra bem feita. Ou nós vamos simplesmente sair matando tudo que a gente encontrar pela frente? Porque eu sou adepto de um combate inteligente...mas a última opção parece muito mais divertida

A Portadora da Luz Interior tentava manter a calma diante do segundo encontro com aquelas criaturas em menos de 24 horas. Padmatavi tinha algumas marcas pelo corpo não cicatrizadas. Eram cortes, perfurações nas costas, abdomem, seios, costas e braços. Marcas de mão na altura do seu pescoço, marcas que todos só se dão conta e percebem conforme ela vai falando:

'- Eu senti na pele essa tarde do que esses malditos são capazes. Todo cuidado é pouco. Nós estamos indo para uma missão onde a morte é o mais provável. Não sabemos quanto são os inimigos, como se organizam, que tipo de poderes possuem. Sabemos pouco ou quase nada sobre eles enquanto eles nos estudam há tempos.'








 A cena deve seguir em Ruas - Zona Norte.